quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O Luto

Angel of Grief (?)

O luto é uma coisa idiota. Nos recolhemos em nossos mundinhos egoístas, vendo só a nossa própria dor, esperando que alguém venha nos pegar no colo e nos dizer o quanto reconhece nosso pesar. Achamos ultrajante a idéia de nos movermos para abraçar outro que sofre ao nosso lado. A dor do ego ferido, da solidão, se confunde com a dor da perda.
O luto é uma coisa cruel. Nos afasta quando precisamos uns dos outros, nos faz esquecer da esperança, nos traz à mente o que deveria ser afastado, ainda que por consideração aos que não poderiam se fazer presentes. Nos enfraquece, corrói, degrada, amortece, extingue. 
O luto dá raiva. É trazido à tona por fatores nada mais que naturais, mas que ainda assim parecem ir contra as leis da natureza. Nos força à resignação.
O luto é uma coisa engraçada. Desde que ele termine. Nos dá uma lição e nos faz renascer pelo menos mais preparados, mais fortes. "O que não mata fortalece." Mas veja bem... Quantos precisam morrer para que se passe pelo luto? Apenas você mesmo.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Ditadura da Felicidade

A "ditadura da felicidade" que inegavelmente vivemos há, pelo menos, uma década nos leva à incompreensão da tristeza alheia e à perda da empatia por aqueles que se mostram mais facilmente sensibilizados. A pressão exercida pela mídia, que nos mostra modelos artificiais e falsos de felicidade, se destaca dentre os vários fatores sócio-culturais que culminaram na chamada "ditadura".
Um problema que esse processo acarreta consiste no fato de que o sentimento de tristeza não expresso acaba por se manifestar de outras maneiras, geralmente mais destrutivas, como a agressão física ou verbal, que normalmente é entendida como expressão de unicamente raiva, emoção ironicamente melhor aceita pelos padrões de comportamento a que somos expostos, senão impostos.
Na incapacidade de reprimir completamente tais sentimentos negativos e em recusa a ir contra os modelos não genuínos de felicidade tão vastamente explorados, muitos recorrem a medicamentos e demais artifícios que prometem suprimir os limites bio-psicológicos humanos.
Acaba-se por perder de vista os objetivos pessoais e os valores a que se devia ater mais fortemente do que a qualquer outra coisa por não se aprender a lidar com frustrações, acreditando que a doença reside na dor, enquanto justamente a dor é capaz de nos libertar do torpor da insensibilidade.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

O Dia em que Desinventei Você

Nesse dia tirei você de cima do garboso cavalo branco que pintei
Tirei de sua boca as palavras que você nunca disse
Tirei minhas legendas de todos os símbolos e sinais que inventei em cada gesto seu
Tirei do caminho minhas fantasias
E então andei, pé ante pé, em sua direção
E o rosto que vi, que havia tanto tempo não via,
me pareceu novo
Genuíno.