quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Desapaixonar-se

Quando o mundo finalmente pára de girar em torno daquela pessoa em especial e se pára junto e olha em volta... percebe-se que nada mais daquilo faz sentido.
Todas as perseguições mentais, as últimas reflexões, todo o arrependimento pelo que não foi dito e todo o tempo perdido elaborando frases cujo som nunca seria ouvido. Tudo perde seu propósito. A personalidade até então assumida parece fora de lugar. É hora de tirar do baú o resto do antigo eu, menosprezado, esquecido, trocado por anexos de identidade incompatíveis.
Desesperança, agora libertadora, sempre entorpecente. Até quando será preciso tê-la por perto para que não haja riscos de recaída? Resignação em todos os aspectos.
Gritos mudos enchem a alma como num enxame a querer sair pela boca.

Trecho - O Cortiço

"Uma aluvião de cenas, que ela [Pombinha] jamais tentara explicar e que até ali jaziam esquecidas nos meandros do seu passado, apresentavam-se agora nítidas e transparentes. Compreendeu como era que certos velhos respeitáveis, cujas fotografias Léonie lhe mostrara no dia que passaram juntas, deixavam-se vilmente cavalgar pela loureira, cativos e submissos, pagando a escravidão com a hora, os bens e até com a própria vida, se a prostituta, depois de os ter esgotado, fechava-lhes o corpo. E continuou a sorrir, desvanecida na sua superioridade sobre esse outro sexo, vaidoso e fanfarrão, que se julgava senhor e que, no entanto, fora posto no mundo simplesmente para servir ao feminino; escravo ridículo que, para gozar um pouco, precisava tirar da sua mesma ilusão a substância do seu gozo; ao passo que a mulher, a senhora, a dona dele, ia tranquilamente desfrutando o seu império, endeusada e querida, prodigalizando martírios que os miseráveis aceitavam contritos, a beijar os pés que os deprimiam e as implacáveis mãos que os estrangulavam.
 - Ah, homens! homens! ... sussurrou ela de envolta com um suspiro."

(Aluísio de Azevedo, O Cortiço)

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Oportunidades Desperdiçadas

Não oportunidades recusadas. Uma oportunidade recusada é aquela que você poderia plenamente aceitar, mas escolheu não fazê-lo porque havia uma mais atraente pela qual você optou. Não oportunidades meramente perdidas. Uma oportunidade perdida geralmente é aquela que apareceu quando você não estava preparado  para aceitá-la.
Oportunidades desperdiçadas são aquelas que não só eram suas melhores opções no momento e poderiam plenamente ser aceitas porque surgiram quando você estava de fato preparado para elas, mas também eram justamente as quais a cuja espera você sempre esteve, e não aproveitou porque dormiu no ponto ou porque sabotou a si mesmo de algum outro jeito. [Em outras palavras, oportunidade desperdiçada é aquela que você sempre quis e pra qual você até se preparou de antemão, mas quando chegou a hora você amarelou, cagou no pau, *odeu consigo mesmo, etc, etc.] Tipo quando você foi viajar de avião, depois de juntar dinheiro por anos, e deixou pra fazer as malas na última hora, de modo que, quando precisou apresentar seu passaporte, se tocou de que o havia esquecido em cima da pilha de cuecas  que você também se esqueceu de colocar na mala. Tipo a garota que estava caidinha por você, mas por quem você, sem  perceber isso, não se deixou envolver por medo de que os seus sentimentos não fossem recíprocos. Tipo no ano em que você prestou vestibular, ano que você passou inteirinho estudando, e quando chegou a véspera da prova você resolveu comer um pastel de feira e por isso ficou com caganeira no Grande Dia.
O motivo pelo qual nós constantemente nos sabotamos é um grande mistério. Acredita-se que, se ele for desvendado, muito mais se saberá sobre a Questão Fundamental da Vida, do Universo e Tudo o Mais.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Hipocritamente Civilizados

O avanço da civilização, ao mesmo tempo que nos traz esclarecimentos nem sempre confortáveis, faz com que o conhecimento objetivo e a seriedade tomem gradualmente o espaço das questões subjetivas e dos sentimentos de prazer e contentamento.
O ser humano vê-se, então, limitado, uma vez que seu ego requer atenção e que é incapaz de se responsabilizar infinitamente. Seu conflito não gira apenas em torno da aparente oposição entre um futuro confortável e um futuro maduro. Vê-se que é biologicamente impossível ao homem continuar a avançar sobre populações, de outras espécies ou mesmo humanas, e sobre o planeta, tão intensa e continuamente, e teme-se que o domínio humano sobre a Terra esteja em seu ápice e que, daqui para a frente, só haja decadência.
Ora, se continuarmos a ter em mente que o crescimento da civilização implica o controle do homem  sobre toda forma de vida, realmente entraremos em decadência em breve e o ápice do domínio humano não corresponderá ao ápice de nossa felicidade. Isso, porém, não quer dizer que devemos abrir mão de toda e qualquer posse para sermos felizes, mas sim que saborear cada pequena conquista, individual ou coletiva, fará com que nos sintamos mais completos e percebamos que algumas aparentes conquistas, supérfluas, a longo prazo nos trarão mais preocupações do que alegrias.
É preciso que reavaliemos os valores das coisas e reconheçamos o ser humano em toda sua individualidade; urge reavaliarmos os valores em que nos inserimos e reconhecermos o ser humano em todas as suas limitações. Faz-se aparente a necessicidade de valorização das noções subjetivas sobre a tendência corrente de tornar toda forma de conhecimento objetiva e generalizada.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Amigos

Você virá me contar sobre as desgraças do seu dia, e eu vou chamar você de dramático.
Você vai me ligar no meio da noite de quarta-feira só porque você não tinha mais nada pra fazer. Eu vou ligar pra você na noite de sábado chorando só porque levei um fora daqueles, então você vai me dizer pra criar vergonha na cara e dar mais valor a mim mesma.
Eu vou me olhar no espelho e dizer que, se eu não fosse gorda, eu não teria passado por metade dos problemas pelos quais passei, e você vai me mandar calar a boca porque eu não estou gorda, mesmo que isso seja uma mentira.
Você vai me dar um abraço apertado quando eu passar no vestibular e vai me incentivar a ir a todas as festas de faculdade às quais você sabe que eu jamais iria.
Você vai rir da minha cara toda vez que eu não souber uma resposta e eu vou fazer todo o drama em cima disso. Então você vai perceber que só o chamo de dramático por pura hipocrisia.
Eu vou ligar pra você no meio da noite de quarta-feira só por causa da bendita TPM. Vou arranjar desgraças na minha vida em que eu possa colocar a culpa por minha irritabilidade pra fazer ainda mais drama em cima disso também. E você nem vai se dar o trabalho de se fingir interessado e vai dormir do outro lado do telefone, eu vou lhe dar uma bronca e você vai acordar, mesmo que eu não tenha realmente ficado brava.
Você vai falar um palavrão na minha frente e vai morrer de vergonha e pedir um milhão de desculpas. Então um dia eu vou soltar um bem articulado "puta que pariu", e você, depois do choque inicial, vai passar a falar toda a sorte de palavrões que conhece na minha presença sem a menor culpa.
Você vai arranjar uma menina linda, inteligente e engraçada, mas eu vou odiá-la até a morte. Porque eu vou morrer de ciúmes do tempo que você vai passar com ela. Porque eu vou morrer de medo de que você se esqueça de me ligar no meio da quarta à noite quando não tiver nada pra fazer.
Porque hoje, graças a Deus, tenho a segurança de dizer que somos amigos. :)

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Capítulo 23 - O Guia do Mochileiro das Galáxias

"É um fato importante, e conhecido por todos, que as coisas nem sempre são o que parecem ser. Por exemplo, no planeta Terra os homens sempre se consideraram mais inteligentes que os golfinhos, porque haviam criado tanta coisa - a roda, Nova York, as guerras, etc. -, enquanto os golfinhos só sabiam nadar e se divertir. Porém, os golfinhos, por sua vez, sempre se acharam muito mais inteligentes que os homens - exatamente pelos mesmos motivos.
Curiosamente, há muito que os golfinhos sabiam da destruição iminente do planeta, e faziam de tudo para alertar a humanidade; porém suas tentativas de comunicação eram geralmente interpretadas como gestos lúdicos com o objetivo de rebater bolas ou pedir comida, e por isso eles acabaram desistindo e abandonaram a Terra por seus próprios meios antes que os vogons chegassem.
A derraderia mensagem dos golfinhos foi entendida como uma tentativa extraordinariamente sofisticada de dar uma cambalhota dupla pra trás assobiando o hino nacional dos Estados Unidos, mas na verdade o significado da mensagem era: Adeus, e obrigado por todos os peixes.
Na verdade havia no planeta uma única espécie mais inteligente que os golfinhos, que passava boa parte do tempo nos laboratórios de pesquisa de comportamento, correndo atrás de rodas e realizando experiências incrivelmente elegantes e sutis com os seres humanos. O fato de que mais uma vez os homens interpretaram seu relacionamento com essas criaturas de um modo totalmente errado era justamente o que estava nos planos elaborados por elas."

(Douglas Adams, O Guia do Mocileiro das Galáxias)

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O Luto

Angel of Grief (?)

O luto é uma coisa idiota. Nos recolhemos em nossos mundinhos egoístas, vendo só a nossa própria dor, esperando que alguém venha nos pegar no colo e nos dizer o quanto reconhece nosso pesar. Achamos ultrajante a idéia de nos movermos para abraçar outro que sofre ao nosso lado. A dor do ego ferido, da solidão, se confunde com a dor da perda.
O luto é uma coisa cruel. Nos afasta quando precisamos uns dos outros, nos faz esquecer da esperança, nos traz à mente o que deveria ser afastado, ainda que por consideração aos que não poderiam se fazer presentes. Nos enfraquece, corrói, degrada, amortece, extingue. 
O luto dá raiva. É trazido à tona por fatores nada mais que naturais, mas que ainda assim parecem ir contra as leis da natureza. Nos força à resignação.
O luto é uma coisa engraçada. Desde que ele termine. Nos dá uma lição e nos faz renascer pelo menos mais preparados, mais fortes. "O que não mata fortalece." Mas veja bem... Quantos precisam morrer para que se passe pelo luto? Apenas você mesmo.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Ditadura da Felicidade

A "ditadura da felicidade" que inegavelmente vivemos há, pelo menos, uma década nos leva à incompreensão da tristeza alheia e à perda da empatia por aqueles que se mostram mais facilmente sensibilizados. A pressão exercida pela mídia, que nos mostra modelos artificiais e falsos de felicidade, se destaca dentre os vários fatores sócio-culturais que culminaram na chamada "ditadura".
Um problema que esse processo acarreta consiste no fato de que o sentimento de tristeza não expresso acaba por se manifestar de outras maneiras, geralmente mais destrutivas, como a agressão física ou verbal, que normalmente é entendida como expressão de unicamente raiva, emoção ironicamente melhor aceita pelos padrões de comportamento a que somos expostos, senão impostos.
Na incapacidade de reprimir completamente tais sentimentos negativos e em recusa a ir contra os modelos não genuínos de felicidade tão vastamente explorados, muitos recorrem a medicamentos e demais artifícios que prometem suprimir os limites bio-psicológicos humanos.
Acaba-se por perder de vista os objetivos pessoais e os valores a que se devia ater mais fortemente do que a qualquer outra coisa por não se aprender a lidar com frustrações, acreditando que a doença reside na dor, enquanto justamente a dor é capaz de nos libertar do torpor da insensibilidade.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

O Dia em que Desinventei Você

Nesse dia tirei você de cima do garboso cavalo branco que pintei
Tirei de sua boca as palavras que você nunca disse
Tirei minhas legendas de todos os símbolos e sinais que inventei em cada gesto seu
Tirei do caminho minhas fantasias
E então andei, pé ante pé, em sua direção
E o rosto que vi, que havia tanto tempo não via,
me pareceu novo
Genuíno.

domingo, 24 de outubro de 2010

Escolhas despercebidas

Por que a gente escolhe O TEMPO TODO. Não dava pra não postar sobre isso. E provavelmente vou postar de novo sobre esse tema, já que sobre isso eu tenho MUITO o que falar.
Você com certeza já teve de fazer uma escolha difícil. Escolheu o que cursar na faculdade, escolheu gastar as economias de três anos inteiros pra pegar pista vip naquele showzaço, escolheu pedir aquela menina com quem você ficou por sete meses em namoro. Também teve de fazer escolhas que lhe pareceram muito mais fáceis. Tipo quando você escolheu dar um pé na bunda da garota ou quando você escolheu se matricular numa academia pra ficar com um corpo legal. Mas as escolhas que nos interessam agora são aquelas que você nem se toca que fez, seja porque são muito óbvias, tipo escolher por a meia POR BAIXO do tênis, e não por cima, porque, se a gente for parar pra pensar TODA VEZ que for escolher, a gente deixa de viver ou porque a gente simplesmente NUNCA PAROU PRA PENSAR, nem reparou que aquilo ERA uma escolha.
Você já se arrependeu de ter escolhido tratar uma pessoa com descaso ou raiva? Você já se arrependeu de ter escolhido ficar panguando, brisando loucamente, em vez de fazer o que deveria ser feito, ou pelo menos em vez de fazer algo um pouco mais últil? Você já se arrependeu de escolher comer um monte de besteiras pra aliviar o estresse da semana? E de ter escolhido não escolher?
Ninguém é de ferro. É normal cometer alguns erros, frustrar-se, descontar a frustração no lugar errado. Mas só o tempo que você perdeu - tentando se reconciliar com quem você tratou mal, se preocupando com as obrigações que ficaram pra trás, tentando perder os quilinhos que você engordou - vale mais do que o valor que tem sido atribuído a ele.
É importante saber se perdoar. Saber seu valor. Seu valor é o valor que você dá a suas escolhas, uma vez que você é o que você faz, não só o que quer e pensa fazer. Seu valor é o valor que você dá ao seu tempo. Não perca tempo se arrependendo. Não se preocupe. Ocupe-se.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

"The loudest sound of all? Love unspoken."

A Escolha profissional entre a Felicidade e o Retorno financeiro

Já faz algumas décadas que os jovens são forçados cedo demais a decidir que profissão seguir pelo resto de suas vidas. Alguns são felizes em suas escolhas e nelas persistem pelo resto de suas vidas. Outros, infelizes, as mantêm mesmo assim, permanecendo, porém, abertos a oportunidades de caminhos divergentes que possam surgir ao longo da vida, ou não as mantêm logo de início e vão em busca de outra carreira.
A escolha profissional, se feita com negligência ou incerteza, pode acarretar frustrações em se tratando do retorno financeiro, do produto gerado pelo trabalho e das relações interpessoais surgidas espontaneamente ou por imposições. Uma escolha bem feita implica, portanto, ponderar as habilidades físicas, intelectuais e sociais do indivíduo juntamente de suas ambições financeiras e, no sentido da elevação do ego e do altruísmo, espirituais.
Isso quer dizer também que aquele que tem ambições de mais difícil concretização mais dificilmente se sentirá satisfeito, enquanto aquele que não ambiciona muito será mais provavelmente contentado. Isso, porém, não quer dizer que aqueles que desejam pouco são mais felizes. Possivelmente, tais pessoas sofram de fortes inseguranças sobre si mesmos. E, para aqueles que ambicionam grande retorno financeiro, é importante avaliar se tal amibição não é um escape com a supressão das ineficiências intelectuais, físicas, sociais ou espirituais.
Assim como Bertrand Russel colocou a filosofia entre a religião e a ciência, conciliando o não-dogmático com o não-concreto, ao se fazer a escolha profissional deve-se conciliar o executável dentro dos limites físicos e intelectuais e a expectativa de retorno financeiro, social e espiritual.

Querido Papai Noel,

Papai Noel,
Esse ano eu fui uma boa garota, uma melhor garota do que vinha sendo nos últimos anos, pelo menos. Até comecei a frequentar a igreja.  Então resolvi me dar o privilégio de pedir algo um pouco mais extravagante de presente, beleza? Até tô mandando o pedido com uma boa antecedência para o senhor ter tempo suficiente pra encontrar um modelo gostosão, tá bom?

Nesse ano...


Não quero um príncipe.
Quero um homem.

Quero um homem que não me ame para sempre,
mas me ame todo dia,
Que não faça pose de galã,
mas tenha postura de cavalheiro

Que não me queira sua serva,
mas, em se tratando de causas éticas, sua cúmplice
E que, em minhas causas, aponte sempre as incongruências,
assim me fazendo maior e mais forte para também fortalecê-lo

Que não me traga certezas,
mas segurança, somente a necessária,
para que então, não livre de minhas dúvidas,
eu seja humilde em reconhecer minha ignorância

Que lute com a palavra, e não com a espada,
Que me traga mais abraços ternos do que beijos
e mais beijos do que flores, [E que me traga muitas flores!]
Que goste da minha amizade e não do meu gostar

Que não me trate como rainha,
nem que se trate como meu rei,
mas que, páreos, nos ergamos
e que, complementares, nos fortifiquemos.


Ooopa... acho que me empolguei, mal aí.
Beijão, Noel! Valeu!