quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Zênite

Estava de saída, não  lembrava para onde. Um lugar qualquer. Qualquer lugar. Tanto fazia. Levava os pedaços de um coração rasgado e arremendado várias vezes seguidas, um punhado de esperança e uma garrafa de vinho, carmenère, mas nenhuma taça. Era só o que levava, mas era toda a bagagem de que necessitava. Não tinha horário para chegar - nem sabia aonde ia -, tampouco tinha relógio, mas estava apressada como nunca.
Agora fora de casa, ia aonde os pés descalços levavam: Um lugar em que o horizonte se estendesse livremente sem encobrir o céu, em que se pudesse deitar sobre a grama e cair no infinito do céu noturno. Ao encontro de mãos que percorressem os equadores das curvas do corpo - todos eles. Ao encontro da última face que ocuparia o Zênite.
(16/08/2011)

domingo, 14 de agosto de 2011

Pai

Quando eu era pequena, pedia ao meu pai: “Pai, me ensina tudo o que você sabe?”
Hoje rio ao lembrar, mas naquela idade me angustiava saber tão pouco, porque tinha certeza de que para ser uma boa pessoa, ter um emprego e uma vida confortável era preciso saber tudo o que havia para se saber. Eu devia ter uns... quatro, cinco anos? Por aí. E questões como minha qualidade de vida futura e se eu era de fato uma princesa já me tiravam o sono. [HAHA]
Fui crescendo, meus pais foram parando de me chamar de princesinha, e, em meio a muitas conversas sobre impedância, linguagem de computação e microscopia eletrônica durante jantares em família, acabei aprendendo várias das coisas que meu pai sabia. Com certeza, uma fração minúscula do total, mas era o suficiente para que eu me sentisse um passo à frente de meus colegas, o que era muito bobo da minha parte, diga-se de passagem.
Como percebi mais tarde, mais de um caminho leva ao sucesso, até mesmo porque sucesso não significa o mesmo para todos. Então talvez, apenas talvez, eu estivesse um passo à frente no meu caminho, mas os caminhos dos meus amigos não passavam por aquele passo, e isso não significava que eles estavam atrás de mim, de maneira alguma.
Foi assim que percebi que talvez, apenas talvez, mas muito provavelmente, boa parte daquele conhecimento que fazia parte do caminho do meu pai não seria de grande utilidade para mim. E desde então eu parei de conversar com meu pai sobre física, já que sou da área de biológicas. Lógico que NÃO! [HAHA] Só porque determinado conhecimento não nos parece aplicável no dia-a-dia, não significa que não possamos ter curiosidade. Além do mais, física era só um dos assuntos nas pautas dos jantares.
Desse mesmo modo, agora que estou divergindo do caminho inicial que a maioria percorre e buscando o meu próprio, vejo que meu pai finalmente desconhece algumas das coisas que estou aprendendo. Mas, seja qual for a motivação, ele nunca se mostrou desinteressado, muito pelo contrário. Conto com o apoio e o abrigo dele porque ele nunca deixou que nada me faltasse. Mais do que isso, conto com o amor e o carinho dele porque foi só com isso que ele me tratou. Agora nada menos justo que uma demonstração de gratidão, certo? Porque é isso o que estou querendo dizer com toda essa baboseira. Sou grata. Talvez não o suficiente, mas tão grata quanto já fui. E espero que ele saiba que sua filha o ama muito.