quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Querido Amigo,

Amigo,

Já lhe contei algumas mentiras.
Talvez a segunda maior delas tenha sido dizer que meu maior medo era, em outras palavras, a atonia frente ao desespero. É claro que isso era mentira. Meu maior medo é, desde que me entendo por gente, a solidão.
Não sei se você se importa, mas tive vontade de lhe contar que hoje experimentei dela. Também não posso lhe dizer com sinceridade que não a quis, pois acho que, sem perceber, a busquei. Será que deixar de ir atrás das pessoas é o mesmo que fugir delas? Porque foi isso que fiz. Foi isso o que aconteceu de ambas as partes. E não, desta vez não me refiro a você, embora ironicamente pudesse.
Talvez eu seja só dramática e precipitada em minhas conclusões, achando que tudo seja sinal de que minha presença incomoda. Acho que minha maior vontade hoje é que alguém me afirme o contrário.
Sabe, agora, aqui sozinha, percebo que "assustadora" não é nem de longe a melhor palavra para descrever a solidão. Não estou com medo agora. No entanto, ainda me faz sentido temer a solidão, como ainda a temo,  já que, mesmo não sendo assustadora, ela é desagradável. E faz sentido ter medo da dor.
Me prometa que, onde estiver, você não sentirá dor.


Saudades suas
Aninha

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Querido Leitor Anônimo, mais uma vez

Por que insistir?
Porque você acreditou na minha força quando tudo o que eu via em mim era fragilidade.
Você me trouxe um conforto ao ver o que eu não mostrava,
ao prestar atenção  nos detalhes.
O que eu nunca disse é que eu também prestei atenção
e acredito ter visto você.
Eu vi você.
Peço desculpas por não ter deixado que você soubesse o quanto vi.
Privei você de um conforto que só você soube me proporcionar até hoje.
Agora já é mais do que tarde demais pra dizer essas coisas,
e espero que você saiba que sei disso.
Mas algo em mim ainda tem fé,
fé de que você estivesse mais certo do que eu teria gostado de admitir.
E, se você estivesse certo todas as vezes que disse que éramos parecidos,
você ainda se importa.
Do mesmo modo que deve ter se importado antes,
mas eu, boba, não admiti.
Você deve saber a que me refiro,
já que não é nada absurdo:
É só a sua amizade,
e a ausência dela, que me incomoda.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Escolhas, Valores e Bom Senso

Não raramente, me pergunto porque e como as pessoas se escolhem. Além disso, o que lhes faz escolher uma pessoa e não outra.
É fácil recorrer ao pensamento simplista de que algumas pessoas valem mais. Que umas são areia demais para os caminhõezinhos de outras. Mas isso quereria dizer, indiretamente ou não, que a relação teria duas faces diamentralmente opostas: de um lado, um deveria se sentir não apenas honrado pela companhia do outro, mas, de certo modo, até tolerado; do outro, caridade. Só que não é assim que se constroem relações equilibradas.
Pimeiramente, porque as pessoas não podem ser simplesmente plotadas num gráfico de amabilidade. Somos constituídos por mais de uma grandeza, e felizmente vai do gosto de quem aprecia valorizar mais uma grandeza ou outra.
Em segundo, quem seríamos nós para fazer tal julgamento de valor? Não podemos nem mesmo afirmar com convicção e humildade simultaneamente que algumas pessoas são mais ou menos bondosas que outras!
E, por último, tampouco podemos dizer se a natureza distribui homogeneamente seus talentos entre suas criaturas. Tem gente que é mais bonita, tem gente que é mais inteligente, tem gente que tem maior coordenação motora etc, e negar isso é escapismo, bem como crer que, se para um falta beleza, esta lhe é compensada por maior inteligência. Tem gente que é bonita, inteligente, simpática e limpinha ao mesmo tempo. Fazer o quê? 
Não adianta querermos nos comparar aos outros. Nos responsabilizemos apenas por aquilo que estiver ao nosso alcance. Já é mais do que consigo dar conta.
Enquanto isso, o que tenho a dizer em minha defesa? Apenas que sou uma obra eternamente incompleta. E, acima de tudo, que estou viva. Mais viva do aqueles que se proíbem de sentir.
Ainda que me sinta tentada a dar justificativas para os valores que temo não ter, percebo que isso não deixa de ser uma forma de julgar, mesmo que inconscientemente, os valores alheios. Então procuro me conter. Afinal, se bom senso é a coisa mais bem distribuída no mundo, isso significa também que eu mesma não peço por mais, embora possa haver quem diga que necessito.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Obra Incompleta

Não é de se estranhar que nos sintamos atirados na maturidade e privados dela logo em seguida, repetidamente. Isso também faz com que não nos sintamos no direito de pedir ajuda, o que nos tranca numa espiral de cada vez mais baixa auto-estima.
A possibilidade de termos consciência de que se trata de baixa auto-estima, no entanto, indica que, na verdade, sabemos que valemos mais do que nos fazemos valer, mas tememos ter orgulho de nós mesmos e, portanto, evitamos demostrá-lo.
Nos resta como conforto o argumento de que podemos - e devemos - sempre nos considerar uma obra incompleta. Isso quer dizer, dentre outras coisas, que embora miremos na perfeição, não devemos cobrá-la de nós mesmos, afinal, só obras incompletas se permitem aprimorar.